Estalar dos dedos
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Deitado, posicionei confortavelmente o braço sobre a testa, de modo que cobrisse também meus olhos, num jeito cômodo e habitual em que me deito há anos antes de dormir. Nesta mesma posição estava poucos anos atrás, deitado, ainda acordado, enquanto meu irmão navegava nas conversas instantâneas da internet, via MSN.
– Diminua o som! Eu pedia, ouvindo os alarmes das janelas virtuais, indicando que mais alguém se comunicava no "bate-papo".
Podia ainda ouvir a digitação corrida no teclado, por debaixo da sombra do braço via a única fonte de luz do quarto, era o monitor a iluminar o rosto dele. Por vezes parava a digitação e estalava fortemente cada um dos seus dedos, enquanto lia os comentários daquelas suas conversas na tela.
Quatro anos se passaram, a casa mudou, o monitor e o computador também mudaram, o que não se alterou foi a forma em que me deito na cama e a saudade de momentos simples como este. Naquela mesma noite surpreendi minha mãe numa crise de choro na cozinha, distraiu-se durante a preparação dos pratos do jantar e acabou colocando um prato a mais, como se ele ainda estivesse ali e fosse ocupar novamente o seu lugar à mesa.
O lugar à mesa vai estar sempre vago. Ela chorava copiosamente, uma sensação angustiante de impotência me abatia e não havia nada que eu pudesse fazer, além de uma humilde e sincera prece.
Raphael V. Tavares
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