A Carne é Fraca?
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Saiu de casa atrasada, passos largos sobre o salto médio a conduziam em busca da primeira lotação que passasse. Andréia, que costumava se embelezar e se maquiar bastante antes de ir para o trabalho, desta vez deu apenas poucas e boas borrifadas do seu preferido perfume e partiu. Cabelos soltos, óculos escuros, subiu depressa no coletivo, atirou algumas moedas ao trocador e logo ocupou um banco do par que estava vago.
O ônibus não estava cheio, restavam mais a frente ainda alguns lugares, Andréia distraia-se com a paisagem da janela próxima ao local que sentara, quando então percebeu outra pessoa que preencheu o lugar vazio ao seu lado. Tratava-se de um rapaz, roupa esportiva, portava duas mochilas pequenas e sentou-se com calma. A jovem Andréia seguia olhando pela janela, sem evitar dar uma rápida olhada para o moço, viu-o de perfil, passaram-se diversos minutos até que Andréia então o olhou outra vez, nessa última reparou-lhe a camisa vermelha e, ao fim, antes de voltar a sua contemplação urbana através da janela, fitou-lhe brevemente o jeans.
A administradora recém formada percebeu finalmente que dava várias olhadas para o colega passageiro e que, “imotivadamente”, estava paquerando-o. Parecia ser um estudante, sua análise se confirmou quando o rapaz puxou de uma das mochilas um fino caderno, o qual logo abriu e deu seguidas folheadas. Censurando seu próprio comportamento, Andréia tentou se policiar, no entanto, via-se quase que “forçada” a repará-lo, era mais forte do que ela, procurava distrações na rua, mas parecia que quanto mais tentava descentralizar o seu pensamento, sua mente a levava focar naquele homem ao seu lado, entorpecida por um já evidente desejo e pelo perfume do cavalheiro que sem pedir licença lhe invadia as narinas. Constrangida, temia que o jovem atentasse para a sua já indiscreta observação, o ônibus seguia trajeto, faltava ainda certo tempo para o fim do percurso.
Não era lindo, nem era feio, na conclusão de Andréia, era o estudante, muito charmoso. Alto e esguio, tinha porte médio-forte, ela olhava insistentemente para o caderno que o rapaz tinha em mãos, quando finalmente ele se virou e a olhou na face. Esperou que ele falasse alguma coisa, baixou a cabeça e logo em seguida o olhou novamente, estava a jovem visivelmente sem graça por achar que o moço tinha percebido sua “paquera”. Cheirava bem, e talvez isso tenha contribuído para aumentar a sua atração, parecia ser perfume importado. O que fazia um estudante usando perfume importado num ônibus pela manhã? Estaria indo pra faculdade, pós-graduação? Pela cara parecia ser estudante universitário. Andréia fazia diversos questionamentos particulares sobre a vida do homem que via pela primeira vez.
Por fim, o estudante guardou rapidamente o caderno na mochila maior e levantou olhando mais uma vez diretamente ao rosto de Andréia. Era mais alto do que ela tinha calculado e em alguns momentos de sobriedade, em contraste com o fascínio que a possuía, a administradora perguntava-se por que agira assim, encarando-o desse modo e, por mais que tentasse desviar seu pensamento, por que fora levada a ficar o curso inteiro da viagem estudando e examinando aquele desconhecido rapaz. Não sabia quem ele era, não queria agir inconvenientemente, contudo, não podia negar a si mesma que tinha lhe chamado muito a atenção. Interrompeu suas próprias indagações quando notou que a mochila menor estava ali, posicionada do seu lado, o estudante tinha esquecido. Ou teria deixado ali propositalmente? Sem raciocinar nada, agarrou a bolsa e colocou o rosto na janela, onde do lado de fora o moço acabara de soltar e estava ainda caminhando em outra direção, o ônibus começava a se movimentar lentamente após a parada onde o rapaz desceu. Hei! Gritou Andréia para o jovem, levantando logo após e deixando o motorista e mais todos da condução perceberem que sem dúvidas ela queria também soltar naquele lugar. Deu um rápido “obrigada” ao sair do coletivo e foi na direção do até então estranho que lhe despertou o súbito interesse.
Poderia ter sido oprimida por uma voz interior perguntando o que é que ela tinha acabado de fazer, por que tinha descido muito antes do seu ponto habitual para entregar o objeto de uma pessoa desconhecida, quando no máximo devia ter lhe atirado a mochila pela janela. Poderia ter sido inquirida por essa voz da sua consciência, porém, não houve tempo pra isso. Quando percebeu, Andréia já estava fora do ônibus, de frente para o rapaz. Você esqueceu sua mochila. Disse ela sorrindo, tendo como retribuição um também largo sorriso do moço que a acompanhou na curta viagem.
Seria apenas o começo de mais um belo flerte entre um jovem casal, não fosse por um importante detalhe. Andréia é noiva de Sérgio. Noivaram havia 6 meses, e ao contrário do que possam estar pensando, o relacionamento de ambos ia muito bem sim, de fato.
Ainda sem desmanchar o sorriso na cara, Andréia entregou a mochila ao rapaz que disse logo: Obrigado!
– De nada. Respondeu ela, num olhar típico de: “estou te dando muito mole”. Ainda sem cair a ficha do que estava acontecendo.
A moça ia se afastando para voltar ao mundo real e tomar de novo outra condução, afinal, tinha soltado repentinamente do coletivo e ainda lhe faltava muito para chegar ao trabalho.
– Você ia soltar também aqui? Indagou antes que Andréia se virasse por completo.
– Não.
– Soltou só pra me devolver?
Andréia corou a face e coçou levemente a nuca, comportamento típico que realizava sempre que se via numa “saia justa” deixando-a sem graça.
– Puxa, me deixe ao menos lhe pagar uma nova passagem, em agradecimento. Disse o moço gentilmente, mas também com certa malícia, a maledicência característica que se esconde por trás da maioria das gentilezas dos homens frente a uma bela mulher.
– Não, obrigada.
– Telefone? Insistiu bem direto o jovem.
– Como?
– Tem telefone?
– Tenho, mas não posso.
Parecia Andréia finalmente ter lembrado do seu compromisso e notado a proporção que aquilo já estava tomando. No entanto, ainda assim, até aquele ponto, sentia-se atraída pelo estudante, porém agora tentava lutar mais contra a sua tentação.
– Tudo bem. Vou te dar o meu então.
Rapidamente o universitário puxou um pedaço de papel do bolso e uma caneta da mochila devolvida. Estranho como os rapazes costumam andar com pedaços devidamente cortados de papel em seus bolsos, e agem com tamanha habilidade para anotar e remeter seu telefone, de um modo suspeito e talvez premeditado. Seria mais fácil que andasse com seu cartão de visitas, mas certamente assim a “cara de pau” seria maior.
– Não posso aceitar...
Antes que concluísse a frase o papel já estava dobrado dentro de uma das mão de Andréia, mão esta que era envolvida pelas mãos do rapaz, num contato que, para aumentar a perturbação da jovem, lhe causava satisfação.
Sem mais investidas, o desconhecido estudante manteve-se desconhecido, soltou-lhe as mãos e seguiu olhando pela última vez para trás. Esboçou um curto e ousado sorriso, deixando claro que dependia só dela ir adiante ou não. Andréia estava absurdamente furiosa consigo mesma, a consciência pesava-lhe forte, sentia-se mal, mas tal sentimento não a impediu de ficar hipnotizada acompanhando a saída do jovem, enquanto ele lhe sorria marotamente.
Depois de se distanciar alguns metros do ponto onde se encontraram e trocaram palavras, Andréia pegou o papel que ainda tinha em mãos e picotou-o em muitos pedaços, deixando serem levados ao bel prazer do vento da cidade, enquanto ela apertava novamente seus passos no sentido do próximo ponto. Estava atrasada, pensou em Sérgio e tratou logo de esquecer o que tinha ocorrido, mas no fundo sabia que, embora tivesse ficado pouco mais de meia hora próxima do rapaz, nunca se sentira atraída desta forma por ninguém antes em sua vida. E experimentou um profundo e proibido desejo, que talvez, pudesse experimentar de novo algum dia.
O ônibus não estava cheio, restavam mais a frente ainda alguns lugares, Andréia distraia-se com a paisagem da janela próxima ao local que sentara, quando então percebeu outra pessoa que preencheu o lugar vazio ao seu lado. Tratava-se de um rapaz, roupa esportiva, portava duas mochilas pequenas e sentou-se com calma. A jovem Andréia seguia olhando pela janela, sem evitar dar uma rápida olhada para o moço, viu-o de perfil, passaram-se diversos minutos até que Andréia então o olhou outra vez, nessa última reparou-lhe a camisa vermelha e, ao fim, antes de voltar a sua contemplação urbana através da janela, fitou-lhe brevemente o jeans.
A administradora recém formada percebeu finalmente que dava várias olhadas para o colega passageiro e que, “imotivadamente”, estava paquerando-o. Parecia ser um estudante, sua análise se confirmou quando o rapaz puxou de uma das mochilas um fino caderno, o qual logo abriu e deu seguidas folheadas. Censurando seu próprio comportamento, Andréia tentou se policiar, no entanto, via-se quase que “forçada” a repará-lo, era mais forte do que ela, procurava distrações na rua, mas parecia que quanto mais tentava descentralizar o seu pensamento, sua mente a levava focar naquele homem ao seu lado, entorpecida por um já evidente desejo e pelo perfume do cavalheiro que sem pedir licença lhe invadia as narinas. Constrangida, temia que o jovem atentasse para a sua já indiscreta observação, o ônibus seguia trajeto, faltava ainda certo tempo para o fim do percurso.
Não era lindo, nem era feio, na conclusão de Andréia, era o estudante, muito charmoso. Alto e esguio, tinha porte médio-forte, ela olhava insistentemente para o caderno que o rapaz tinha em mãos, quando finalmente ele se virou e a olhou na face. Esperou que ele falasse alguma coisa, baixou a cabeça e logo em seguida o olhou novamente, estava a jovem visivelmente sem graça por achar que o moço tinha percebido sua “paquera”. Cheirava bem, e talvez isso tenha contribuído para aumentar a sua atração, parecia ser perfume importado. O que fazia um estudante usando perfume importado num ônibus pela manhã? Estaria indo pra faculdade, pós-graduação? Pela cara parecia ser estudante universitário. Andréia fazia diversos questionamentos particulares sobre a vida do homem que via pela primeira vez.
Por fim, o estudante guardou rapidamente o caderno na mochila maior e levantou olhando mais uma vez diretamente ao rosto de Andréia. Era mais alto do que ela tinha calculado e em alguns momentos de sobriedade, em contraste com o fascínio que a possuía, a administradora perguntava-se por que agira assim, encarando-o desse modo e, por mais que tentasse desviar seu pensamento, por que fora levada a ficar o curso inteiro da viagem estudando e examinando aquele desconhecido rapaz. Não sabia quem ele era, não queria agir inconvenientemente, contudo, não podia negar a si mesma que tinha lhe chamado muito a atenção. Interrompeu suas próprias indagações quando notou que a mochila menor estava ali, posicionada do seu lado, o estudante tinha esquecido. Ou teria deixado ali propositalmente? Sem raciocinar nada, agarrou a bolsa e colocou o rosto na janela, onde do lado de fora o moço acabara de soltar e estava ainda caminhando em outra direção, o ônibus começava a se movimentar lentamente após a parada onde o rapaz desceu. Hei! Gritou Andréia para o jovem, levantando logo após e deixando o motorista e mais todos da condução perceberem que sem dúvidas ela queria também soltar naquele lugar. Deu um rápido “obrigada” ao sair do coletivo e foi na direção do até então estranho que lhe despertou o súbito interesse.
Poderia ter sido oprimida por uma voz interior perguntando o que é que ela tinha acabado de fazer, por que tinha descido muito antes do seu ponto habitual para entregar o objeto de uma pessoa desconhecida, quando no máximo devia ter lhe atirado a mochila pela janela. Poderia ter sido inquirida por essa voz da sua consciência, porém, não houve tempo pra isso. Quando percebeu, Andréia já estava fora do ônibus, de frente para o rapaz. Você esqueceu sua mochila. Disse ela sorrindo, tendo como retribuição um também largo sorriso do moço que a acompanhou na curta viagem.
Seria apenas o começo de mais um belo flerte entre um jovem casal, não fosse por um importante detalhe. Andréia é noiva de Sérgio. Noivaram havia 6 meses, e ao contrário do que possam estar pensando, o relacionamento de ambos ia muito bem sim, de fato.
Ainda sem desmanchar o sorriso na cara, Andréia entregou a mochila ao rapaz que disse logo: Obrigado!
– De nada. Respondeu ela, num olhar típico de: “estou te dando muito mole”. Ainda sem cair a ficha do que estava acontecendo.
A moça ia se afastando para voltar ao mundo real e tomar de novo outra condução, afinal, tinha soltado repentinamente do coletivo e ainda lhe faltava muito para chegar ao trabalho.
– Você ia soltar também aqui? Indagou antes que Andréia se virasse por completo.
– Não.
– Soltou só pra me devolver?
Andréia corou a face e coçou levemente a nuca, comportamento típico que realizava sempre que se via numa “saia justa” deixando-a sem graça.
– Puxa, me deixe ao menos lhe pagar uma nova passagem, em agradecimento. Disse o moço gentilmente, mas também com certa malícia, a maledicência característica que se esconde por trás da maioria das gentilezas dos homens frente a uma bela mulher.
– Não, obrigada.
– Telefone? Insistiu bem direto o jovem.
– Como?
– Tem telefone?
– Tenho, mas não posso.
Parecia Andréia finalmente ter lembrado do seu compromisso e notado a proporção que aquilo já estava tomando. No entanto, ainda assim, até aquele ponto, sentia-se atraída pelo estudante, porém agora tentava lutar mais contra a sua tentação.
– Tudo bem. Vou te dar o meu então.
Rapidamente o universitário puxou um pedaço de papel do bolso e uma caneta da mochila devolvida. Estranho como os rapazes costumam andar com pedaços devidamente cortados de papel em seus bolsos, e agem com tamanha habilidade para anotar e remeter seu telefone, de um modo suspeito e talvez premeditado. Seria mais fácil que andasse com seu cartão de visitas, mas certamente assim a “cara de pau” seria maior.
– Não posso aceitar...
Antes que concluísse a frase o papel já estava dobrado dentro de uma das mão de Andréia, mão esta que era envolvida pelas mãos do rapaz, num contato que, para aumentar a perturbação da jovem, lhe causava satisfação.
Sem mais investidas, o desconhecido estudante manteve-se desconhecido, soltou-lhe as mãos e seguiu olhando pela última vez para trás. Esboçou um curto e ousado sorriso, deixando claro que dependia só dela ir adiante ou não. Andréia estava absurdamente furiosa consigo mesma, a consciência pesava-lhe forte, sentia-se mal, mas tal sentimento não a impediu de ficar hipnotizada acompanhando a saída do jovem, enquanto ele lhe sorria marotamente.
Depois de se distanciar alguns metros do ponto onde se encontraram e trocaram palavras, Andréia pegou o papel que ainda tinha em mãos e picotou-o em muitos pedaços, deixando serem levados ao bel prazer do vento da cidade, enquanto ela apertava novamente seus passos no sentido do próximo ponto. Estava atrasada, pensou em Sérgio e tratou logo de esquecer o que tinha ocorrido, mas no fundo sabia que, embora tivesse ficado pouco mais de meia hora próxima do rapaz, nunca se sentira atraída desta forma por ninguém antes em sua vida. E experimentou um profundo e proibido desejo, que talvez, pudesse experimentar de novo algum dia.
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Raphael V. Tavares