O Valor de um Abraço
No início, quase nunca damos o devido valor ao abraço dos nossos pais, primeiro porque somos ainda tão pequeninos, nem consciência temos daqueles que nos guardam. Noites frias, madrugadas em vigília, mais tarde, anos depois, o coração deles experimentará indizível alívio, só em ouvir a maçaneta no meio da calada noturna, indicando que o rebelo chegou de volta à casa.
As primaveras se vão, os invernos também e com eles as lembranças daqueles abraços gostosos, aqueles que esquentavam mais com o carinho do que com a lã. Na infância o abraço é guardião, na adolescência abraço no pai é pagar micão, na fase adulta o abraço é uma lição.
Os abraços que muitas vezes damos com pressa, a vida é rápida, às vezes abraçamos somente para cumprir o protocolo depressa. Os abraços de fim de ano, abraço de formatura, abraços que nunca mais poderemos dar e que mesmo assim vamos para sempre levar.
Abraço de quando o time faz gol, o motivo é fugas, mas a emoção é legítima!
Abraços grotescos são aqueles que fingem ser leais, “abraços falsos”. Tem também os abraços de avó, abraço de avô, o abraço daquela tia querida. Quem nunca teve um abraço de uma tia chata, que espremia e esmagava mais do que abraçava?
Existe o abraço da saudade, talvez o mais forte e o mais doído de todos, certamente porque o abraço da saudade enlaça os braços da alma.
O abraço da amizade tem um sabor especial, tem amor fraternal. Já o abraço de um romance tem a poesia do amor, tem a cumplicidade que se confiou, às vezes tem até uma vida que se entregou. E, por que não, o abraço de um romance tem ainda aquela malícia de pouco pudor, num misto singular da inocência e do dissoluto libertino, desde os jovens até os antigos casais.
O abraço é uma entrega, é desarmar-se em confiança ao outro, é oferecer nada além de você mesmo, é abrir os braços e dizer: você tem a mim!
Até os durões abraçam, os mais gelados podem derreter surpreendentemente em meio a um abraço que trás lembranças remoídas.
Contudo, na grande parte das vezes, apenas nos daremos conta do quanto valia aquele abraço quando não pudermos mais repeti-lo, ao menos temporariamente. Um filho só vai saber o real significado do abraço do seu pai depois que ele se for, e então ele vai abraçar o seu próprio filho da mesma forma que seu pai um dia o abraçou. É claro que há exceções, o mesmo serve para aquele tio que foi como um pai, ou para aquele amigo que foi como um filho, mas a regra é certa, nós valorizamos mais (muito mais) só depois que já não temos da mesma maneira de antes.
Não poderia finalizar sem lembrar do abraço da reconciliação, sem dúvida um abraço que faz tambor no coração, que limpa o lixo da mágoa e varre o limo do remorso nas paredes de emoções.
Quanto aos abraços de desabafo, geralmente terminam com camisas úmidas de lágrimas.
Por essas e por outras, fatalmente chegamos a uma nítida conclusão, um verdadeiro abraço não tem preço.
Raphael V. Tavares
Raphael V. Tavares