"Não sou este corpo que possui um espírito, mas sou o Espírito que fala por este corpo."

terça-feira, 18 de abril de 2017

Envelhecimento


Noutro dia fui almoçar com meu pai no centro do Rio e fomos a um restaurante tradicional que fica na esquina da rua do Senado com a Lavradio. Como sou observador no caminho notei o jeito do meu pai andar e logo pude perceber que ele tem estado mais curvado ultimamente, assim como a  sua passada já não é mais tão firme e tão rápida como antes. Ao voltar a atenção para mim mesmo percebi como eu também estava desenvolvendo uma protuberância no abdômen, a minha barriga tinha aumentado, principalmente depois que casei, e olha que naquele momento dessa constatação a gente ainda nem tinha almoçado. Certamente a barriga está maior não apenas porque eu estou comendo mais, o principal motivo (além do sedentarismo) imagino que seja o fato do meu metabolismo estar mais lento. Durante o almoço, pensando nestas mudanças que tem acontecido comigo e com meu pai, minha mente foi longe refletindo na passagem do tempo.
Foi então que o óbvio me pareceu absurdo, eu estou envelhecendo.
De repente uma série de situações vieram a minha cabeça, as quais realmente transformaram aquele almoço numa plena epifania, pelo menos para mim.
Crianças que eu vi nascer, hoje estão terminando a faculdade.
A minha miopia aumenta de grau a cada visita minha ao oftalmologista.
Uma ressaca no domingo de manhã que há 10 anos seria apenas uma forte dor de cabeça, hoje me dá a sensação de ter sido atropelado por uma caminhonete.
O final de semana que antes era aguardado para as festas e noitadas, hoje é comemorado pela remota possibilidade de dormir algumas horas a mais.
Já não lembro quando foi a última vez que me deitei sem sentir uma pontada na coluna ou que acordei sem alguma falta de ar.
Qualquer um sabe que a receita para um envelhecimento saudável é a boa alimentação e a prática de exercícios, porém, no raríssimo tempo livre que sobra para mim, não consigo pensar em fazer outra coisa que não seja... dormir.
"Envelhecimento" essa palavra ainda me soa muito estranha, lembro que noutro dia eu estava jogando videogame nas férias escolares com meu irmão, com que direito o tempo vem e ousa passar pela vida assim?
Certa vez numa conversa com a minha avó, uma senhora que já deixou de ser octogenária há alguns anos e caminha para as suas nove décadas, ela me dizia que o seu corpo havia se esquecido de contar para mente que o tempo passou.
Narrava também que ela odeia a mania das pessoas mais jovens de soltarem a seguinte exclamação: “Que gracinha!” ao saberem da idade dela. Segundo a própria, esse comportamento dos mais jovens para com ela teria piorado muito nos últimos anos.
Apesar deu ter menos da metade da idade da minha avó entendo perfeitamente o que ela queria dizer. O tempo passa e a gente não para pra ver, me surpreendo sempre com fotos minhas de cinco anos atrás e outro dia me assustei contando o número de filmes que eram recentes e agora já tem vinte anos de lançamento.
O choque final de realidade se deu semana passada, quando no centro do Rio uma mulher disse para mim, após um esbarrão: “Desculpe, senhor!” Ué, até outro dia seria "Desculpa rapaz". Deve ter sido a minha barba que estava grande.

Raphael V. Tavares


O mal é a ausência do bem, assim como a escuridão é a ausência da luz.
Desta lógica, um dia será inadequado usar a palavra “morte” para falar da situação dos que já se foram, pois que a morte é a ausência da vida, mas aqueles que partiram ainda vivem, numa vida paralela a nossa!