Noutro dia fui
almoçar com meu pai no centro do Rio e fomos a um restaurante tradicional que
fica na esquina da rua do Senado com a Lavradio. Como sou observador no
caminho notei o jeito do meu pai andar e logo pude perceber que ele tem estado
mais curvado ultimamente, assim como a sua passada já não é mais tão
firme e tão rápida como antes. Ao voltar a atenção para mim mesmo percebi como
eu também estava desenvolvendo uma protuberância no abdômen, a minha barriga
tinha aumentado, principalmente depois que casei, e olha que naquele momento dessa constatação a gente ainda nem tinha almoçado. Certamente a barriga está
maior não apenas porque eu estou comendo mais, o principal motivo (além do
sedentarismo) imagino que seja o fato do meu metabolismo estar mais lento. Durante o almoço, pensando nestas mudanças que tem acontecido comigo e com meu pai, minha mente foi longe refletindo na passagem do tempo.
Foi então que o
óbvio me pareceu absurdo, eu estou envelhecendo.
De repente uma
série de situações vieram a minha cabeça, as quais realmente transformaram aquele
almoço numa plena epifania, pelo menos para mim.
Crianças que
eu vi nascer, hoje estão terminando a faculdade.
A minha miopia
aumenta de grau a cada visita minha ao oftalmologista.
Uma ressaca no
domingo de manhã que há 10 anos seria apenas uma forte dor de cabeça, hoje me
dá a sensação de ter sido atropelado por uma caminhonete.
O final de
semana que antes era aguardado para as festas e noitadas, hoje é comemorado
pela remota possibilidade de dormir algumas horas a mais.
Já não lembro
quando foi a última vez que me deitei sem sentir uma pontada na coluna ou que
acordei sem alguma falta de ar.
Qualquer um
sabe que a receita para um envelhecimento saudável é a boa alimentação e a
prática de exercícios, porém, no raríssimo tempo livre que sobra para mim, não
consigo pensar em fazer outra coisa que não seja... dormir.
"Envelhecimento"
essa palavra ainda me soa muito estranha, lembro que noutro dia eu estava jogando videogame
nas férias escolares com meu irmão, com que direito o tempo vem e ousa passar
pela vida assim?
Certa vez numa
conversa com a minha avó, uma senhora que já deixou de ser octogenária há
alguns anos e caminha para as suas nove décadas, ela me dizia que o seu corpo havia
se esquecido de contar para mente que o tempo passou.
Narrava também que ela odeia a mania das pessoas mais jovens de soltarem a seguinte
exclamação: “Que gracinha!” ao
saberem da idade dela. Segundo a própria, esse comportamento dos mais jovens
para com ela teria piorado muito nos últimos anos.
Apesar deu ter
menos da metade da idade da minha avó entendo perfeitamente o que ela queria
dizer. O tempo passa e a gente não para pra ver, me surpreendo sempre com fotos
minhas de cinco anos atrás e outro dia me assustei contando o número de filmes
que eram recentes e agora já tem vinte anos de lançamento.
O choque final
de realidade se deu semana passada, quando no centro do Rio uma mulher disse
para mim, após um esbarrão: “Desculpe, senhor!” Ué, até outro dia seria
"Desculpa rapaz". Deve ter sido a minha barba que estava grande.
Raphael V. Tavares