"Não sou este corpo que possui um espírito, mas sou o Espírito que fala por este corpo."

terça-feira, 20 de março de 2012

Poema Metade

METADE



Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe,seja linda ainda que tristeza
 que a mulher que amo seja pra sempre amada, mesmo que distante
 porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço
e que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
 mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
 mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
 porque metade de mim é amor
e a outra metade também. 


OSWALDO MONTENEGRO

Um comentário:

  1. Muito bom o texto, Rapha!

    Já tive um contato prévio com este, e também achei sensacional!!!

    Parabéns pelo blog!

    Abraços

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O mal é a ausência do bem, assim como a escuridão é a ausência da luz.
Desta lógica, um dia será inadequado usar a palavra “morte” para falar da situação dos que já se foram, pois que a morte é a ausência da vida, mas aqueles que partiram ainda vivem, numa vida paralela a nossa!