A Vida da Morte
Voa folha seca de outono, ininterruptamente o mundo vai girar, ninguém vai parar a programação só porque eu vi a morte passar. O jornal de esportes continuará passando no mesmo horário em que costumávamos assistir, no entanto, não poderei tecer os mesmos comentários que, brincando, nós buscávamos juntos construir. As meninas continuarão caminhando e eu não o ouvirei mais dizer: "ela está me olhando", e quando então eu me enjoar da minha própria seriedade, não terei aquela sua peculiar espontaneidade que me fazia por alguns instantes esquecer tudo e ver que as bobas brincadeiras é que muitas vezes constroem as mais puras e mais saudáveis gargalhadas. E como vou resgatar aquelas tão nossas palhaçadas, que faziam nos olharmos e entendermos a nossa única sacada? Como aludir àquela frase que foi num verão citada, onde nós passamos numa praia de Búzios ou Iguaba, ou ainda numas férias onde, por castigo, ficamos trancados em nossa casa?
As crianças continuarão crescendo, o Fluminense continuará ganhando ou perdendo, o shopping estará cheio outra vez no fim de ano, mas não será com você que eu vou estar lanchando. Embora eu saiba que você vive em outro lugar, sabendo também cada vez mais que a morte não vai nos aniquilar, a saudade me corrompe, não posso evitar. Tudo isso me acalenta, faz meu pequeno raciocínio entender um pouco da lei de Deus, saber que tudo está no controle dEle, e que um dia, se merecermos, os meus olhos verão então novamente os seus. Todavia, algo ininterrupto é a minha vontade de te abraçar, e isso não tem jeito, pelo menos por enquanto, a morte conseguiu me furtar, mesmo que um dia eu também esteja onde agora você está, como vou vivendo daqui, o que faço até lá?
Sempre a achei natural, nunca temi a morte, isso eu pude te contar, porém, não a tinha experimentado de perto e vi quão amarga é tê-la no meu lar. Diferente de você, pouquíssimos eu posso chamar amigos, e aí? Se no silêncio eu me encontrar, se a solidão resolver me visitar, com quem eu vou conversar? Continuarei chegando da faculdade exausto, e cheio de notícias para lhe confiar, mas aqueles nossos papos no fim de noite, esses não irão continuar.
Estou aprendendo a caminhar sozinho, digo "sozinho" não porquê minimizo ou menosprezo a companhia dos que me amam e aos quais eu amo também. Digo sozinho porque nossa estrada é única e indivisível, não se apaga ou modifica o que juntos construímos até aqui, não se recria ou remonta o caminho que nós fizemos para seguir. A partir de então sigo só, comigo somente a crença, é larga e forte a sua ausência, embora eu saiba que ainda há a presença, mas que infelizmente se faz vaga para suprir o buraco da saudade que a cada dia é cavado com uma agoniante freqüência.
Não sou um ingrato, nem um revoltado, agradeço por estar sendo amparado e por poder, através da religião, me acalmar e me informar. É como se ao ouvir um novo ensinamento eu ouvisse junto a sua tradicional frase: "Viu? Relaxa! Um dia isso tudo passa".
A morte faz parte, lidar com ela é mais do que uma arte, não adianta contra ela gritar e esbravejar, porque ela não muda, nem nunca mudará. A idéia de transformação torna mais leve o peso da bigorna, mesmo assim, a tristeza se faz morna e a saudade encontra a forma pra poder me alcançar. Mas se a dor ainda entorna, penso em Deus, e através dEle o dolorido então contorna, pela fé raciocinada Ele me conforma, vou lembrando a cada nova hora e se consigo ser feliz agora é porque o meu coração continua a te alcançar.
Raphael Vieira Tavares
Noca hooje eu pude descobrir
ResponderExcluiro seu talentoo...
juro que nunca imagineii que vc gostasse de escrever assim..
ainda maiis coiisas tao liindas!!
PARABENS..
engraçadoo que teve um tempo que agnt se afstou tanto neh??
mas agoraa to vendo que a nossa convivenciiaa está se entrelaçando novamentiii
fico muiito feliz com isso!
ti adorooo!!
Até aqui, os que li, esse foi um dos que mais gostei!
ResponderExcluirÉ engraçado como coisas (q na maioria das vezes pensamos que só acontecem com a gente) podem ser mais comuns do que imaginamos.
Os mesmos sentimentos, as mesmas dores...
Tenho que te confessar que quando cheguei na parte "Tudo Passa", ali eu vi, q a dor de se perder alguém não foi só minha. Mas infelizmente isso ainda não passou pra mim, por mais que eu continue acreditando que tudo passa!
E vou continuar lendo cada texto, são ótimos!
;)