Manhã de Primavera

Manhã de Primavera

Fazia um sol brilhante naquela manhã de primavera e, depois de uma noite assistindo a várias fotos antigas na rede social, acordei sendo assaltado por profunda melancolia. Na saída para o trabalho, inobstante minha esposa mantivesse outros assuntos corriqueiros as lembranças da infância vinham acesas à mente.

A casa da antiga moradia era saudosa demais, lembrei do meu pai naquela foto, tão jovem e tão bonito. “Éramos uma família linda” pensei.

Na fotografia digitalizada, curiosamente meu irmão mantinha a mesma posição que eu, talvez me imitando, já que eu deveria ter uns 4 ou 5 e ele apenas 3 anos.

A grade que contornava a piscina aparecia na foto dando sinais de que tinha sido pintada há pouco tempo, enquanto nós, pequeninos, guardávamos no olhar a ternura comum das criancinhas.
Eu tentava ampliar a imagem até o máximo possível, como se numa mágica pudesse mergulhar de volta naquele cenário.

De volta ao presente, um senhor sentado ao meu lado na barca coletiva comentava com o colega sobre a partida de futebol da noite anterior, ao passo que eu, algo nostálgico, refletia como que o tempo tem a absoluta capacidade de alterar o contexto de nossas vidas.

Provavelmente sensibilizado pelos meus problemas particulares na vida profissional e financeira, me vi querendo retornar à infância, tentado a promover uma fuga à época em que as noites eram cercadas somente pelo carinho dos pais e a única preocupação da vida era a escola.

Fazer a lição de casa, jantar com meu irmão, depois só jogar videogame ou falar besteira até o sono chegar.

A vida passa diante de nós, e se não paramos para contemplá-la pode ser que nem a vejamos passar. Tolo é aquele que não tem coragem de admitir as suas fraquezas, pois que, ao negá-las deixa de reconhecer a sua própria fragilidade humana.

Chore sim. Lembre sim. Cale sim.

Mas não olvide que amanhã é novo dia e nascerá um outro sol de primavera.

Raphael V. Tavares